Filme – Mulher Maravilha

Por Ana Lucia Gondim Bastos

Para Carol da Mata, que baila com poesia, sem perder, ou melhor, por causa da força dos pés no chão

Em maio de 1942, uma super heroína ganhava revista própria. Diana, a Mulher Maravilha, é personagem das Histórias em quadrinhos da DC Comics e tem origem na mitologia greco-romana.  Princesa das Amazonas, na inacessível, por ser protegida pelos deuses, ilha de Themyscira, filha da rainha Hipólita, é enviada ao mundo dos mortais emissária da paz e da verdade, na vida do planeta.

Na década de 70, fui uma das crianças que aguardava ansiosa a hora de assistir a mais um episódio da Mulher Maravilha no seriado para TV, protagonizado por Linda Carter. Com seus braceletes protetores e o laço da verdade, era a heroína destemida e de postura assertiva que dialogava com uma geração de meninas que já se projetavam no mercado de trabalho e no mundo extramuros domésticos.

Tantos anos se passaram, tantas super produções para o cinema em torno dos heróis originários das HQs, até que em 2017, finalmente, chega, às telas mundiais, um filme contando sua história: o primeiro filme de uma super heroína, dirigido por uma mulher (Patty Jenkins). Como a personagem original dos quadrinhos, a nova Mulher Maravilha (Gal Gadot) e todas as demais amazonas, não possuem aspecto frágil ou corpo sensual, são lutadoras de gestos precisos e força no golpe. Então, a força da mulher não aparece ligada ao poder da sedução ou  sagacidade maliciosa, como ainda é habitual, em nossa sociedade. Pelo contrário, Diana tem um compromisso com a verdade e luta pela paz. Assim, existe também um aspecto protetor, cuidadoso e empático, na personagem, que se harmoniza com sua garra e determinação, oferecendo a ela uma outra arma: a desnaturalização de padrões de comportamento. Como fora criada num mundo à parte, nada sabe sobre as relações de poder, subjugo ou preconceito, em nosso mundo. Então, tampouco entende quando é dito que não fale sobre determinado assunto ou não entre em qualquer lugar que seja, pois, a ideia de “mundo e assuntos dos homens” não faz o menor sentido para aquela , que tem como compromisso maior, tirar o ser humano da situação de guerra. Assim, bem de acordo com o ditado popular que diz – “quem não sabe que é impossível, vai lá e faz!” – Diana sai questionando valores e discutindo as estratégias de guerra, tudo isso sem perder o encantamento com as coisas simples, da vida cotidiana. De modo sutil, o roteiro acaba trazendo a ideia de como essa atitude pode ser transformadora no olhar para as potencialidades de todos, questionando os mais diversos casos de discriminação social.  Ocorreu-me que talvez por isso o filme comece (e termine) na França, com Diana Prince trabalhando no Departamento de Antiguidades do Museu do Louvre , por pretender nos remeter aos ideias da Revolução francesa de liberdade, igualdade e fraternidade – saída que parece combinar bem com os ideias da Mulher Maravilha de Jenkins. Também o traje da super heroína escapa da referência tão clara à bandeira estadunidense, tomando aspectos mais ligados à sua origem greco-romana. No mais, o filme segue, relativamente, fiel ao piloto para exibição na Tv : “The New Original Wonder Woman”. Pelo menos no que diz respeito à apresentação da mítica ilha e a entrada de Diana no mundo dos mortais, durante a Segunda Grande Guerra. Mas, de todo modo, as delicadas modificações  na personagem não me parecem aleatórias, já que provenientes do trabalho de direção de quem, anteriormente, já se mostrou muito cuidadosa ao compor as fortes e complexas personagens femininas de “Monster – Desejo Assassino” (2003).

Unknown

1 comentário

Deixe um comentário