Filme – O Segredo dos teus Olhos

O Segredo dos teus Olhos

                                     (Por Ana Lucia Gondim Bastos)

O segredo é o constantemente revelado pelo olhar. Terminado o filme, fiquei me perguntando se o tal segredo não seria a capacidade do olho revelar o silenciado. É o olhar de Isidoro, registrado nas fotos de adolescência, que revela-o como suspeito de um crime. Crime motivado pela paixão doentia, a paixão que faz com que não se consiga pensar o outro com existência própria, o outro longe de si… o outro como outro. O olhar apaixonado de quem quer o objeto amado estático e sem vida, como na baladinha adolescente, de outrora, que diz “e gosto dele assim: assado,cozido, fritinho enrolado, todinho para mim”! Na baladinha o que aparece num tom “fofo”, ingênuo e um tanto romântico, no filme dá margem ao estupro e assassinato de uma bela moça recém casada (com outro homem). É Benjamin, personagem de Ricardo Darín, o agente responsável pela investigação do caso. Ë ele que reconhece o olhar de cobiça de Isidoro pela colega de adolescência, nos álbuns antigos. Ao contrário do que se havia cogitado, para Benjamin, o marido nunca fora suspeito, o amor dele era de outro tipo, do tipo de quem reconhece o quanto o outro faz falta, por ser outro!

O olhar de Benjamin também denuncia um amor silenciado, o amor por sua jovem chefe. Talvez por isso ele tenha tanta facilidade de “ler” olhares. O filme se passa em dois tempos: um tempo presente, no qual Benjamin, recém aposentado, inicia a escrita de um romance baseado na história do crime há anos investigado e, paralelamente, no tempo em que o crime e a investigação ocorreram. Para escrita do romance, Benjamin volta à investigação e ao contato com Soledad, sua ex chefe. Numa noite, desse segundo momento de investigação, uma palavra lhe ocorre logo que acorda: TEMO. No decorrer do filme uma maquina de escrever do tempo da primeira investigação reaparece e é lembrada a falta da letra A, que acompanhou os registros daquele momento, naquele departamento de justiça. Benjamin, então, é capaz de desvendar o enigma da palavra solta na noite (e na história). TEMO, transforma-se em TE AMO. Tantos anos do temor de amar, tantos anos de amor silenciado, tantos anos de olhares reveladores. Talvez agora, Benjamin sinta-se mais preparado e maduro para amar. Um amor que considera o outro,  e que sabe que não será fácil (porque nunca o é quando a história, desejos e demandas do outro é considerada), mas poderá ganhar muitos outros sentidos! Outra dupla do enredo não é capaz de se desprender das amarras da paixão doentia, mas essa parte fica para quem topar assistir ao filme.

Lindo filme, lindo final!

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