Animação – Divertida Mente

Por Ana Lucia Gondim Bastos

Peter Docter é responsável pela direção de animações como Up – Altas Aventuras e Monstros S/A. Só por aí já é fácil supor seu especial interesse por encontrar, e oferecer ao público infantil, novas e diferentes ilustrações para o que acontece dentro da gente nos momentos de grandes perdas, de grandes distâncias, ou de ter que dar conta da escuridão ou da solidão. Impossível não falar disso tudo sem falar, também, do valor do abraço, dos laços afetivos, de tudo o que é compartilhado e dos registros de memória. Em Divertida Mente (2015), nova animação da Disney/Pixar, que dirige, Docter faz, das próprias emoções/sensações, personagens e conta da movimentação que vai acontecendo dentro da gente desde o início da vida – quando o nosso painel de controle conta com um único e grande botão regido por uma única emoção por vez – até a puberdade – quando o painel de controle ganha uma grande complexidade e várias emoções podem estar no controle simultaneamente. A trama acontece, justamente, quando alegria e tristeza são banidas do controle que passa a ser inteiramente dominado pela raiva, por medo e por “nojinho”, num momento de perda de antigas referencias, por conta de uma mudança de cidade. No processo de busca de retorno ao centro de controle, Alegria e Tristeza passam pelas ameaçadas ilhas de grandes referencias, por onde correm os trilhos dos pensamentos, conhecem o “estúdio” de formação dos sonhos e, nesse processo, vão se reconhecendo como partes de mesmos momentos. Me parece que sem grandes pretensões de discorrer sobre o aparelho psíquico de forma professoral, tampouco fiel ao modelo trabalhado por Freud, o que Pete Docter nos oferece é mais uma possibilidade de pensar sobre dores e delícias, próprias da vida humana, de forma leve e divertida, nos fazendo acreditar que podemos contar com a criatividade e com a esperança, para dar cor e sabor às nossas histórias. Desta vez, pelo que venho observado, apesar do desenho ser bem infantil e coloridíssimo, atingiu em cheio os recém chegados à adolescência. Talvez por oferecer contorno à sensação de conflito de emoções em seus painéis de (des) controle. Apesar da ideia de painel de controle poder soar normatizadora (e, até ser), não achei que comprometa a proposta do filme, já que a quantidade de botões se amplia constantemente, sempre aparecendo uns desconhecidos, no decorrer da vida. Além disso, as novidades que o mundo oferece estão sempre propondo novas adaptações e promovendo embates de emoções.

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