Por Ana Lucia Gondim Bastos
Ser ou não ser o centro das atenções, querer ser ou não querer ser o centro das atenções, poder ser ou não poder ser o centro das atenções ou, ainda, como ser o centro das atenções e qual o preço disso? Talvez tenhamos respostas imediatas para qualquer uma dessas questões, mas, sempre levando em conta cenários hipotéticos e situações ideais. O Alvo, peça com texto e direção de Pedro Garrafa, traz essa discussão para o universo adolescente, momento no qual a importância de estar inserido num grupo, assim como, a preocupação com o olhar e com a opinião do outro, ficam, especialmente, super dimensionadas. Fui assistir à peça com a expectativa de encontrar uma boa discussão sobre bullyng no contexto escolar , voltada ao público juvenil (justamente, aquele que já cresceu entendendo e tratando atitudes discriminatórias, nos grupos dos quais fazem parte, como do campo dessa definição). No entanto, “O Alvo” é bem mais que isso. Sem maniqueísmos ou discursos normativos, conta a história de cinco colegas de ensino médio, no momento em que se deparam com a necessidade de se responsabilizar por inesperadas, e sérias, consequências de ações cotidianas, realizadas sem maiores reflexões acerca de suas intencionalidades ou decorrências. Com uma narrativa dinâmica e nada linear, vai fazendo com que acompanhemos cada uma, e todas, no caminho que parte das respostas prontas e defensivas sobre o ocorrido até o estranhamento de perceber a que ponto podem chegar suas ações, na hora do “vamos ver”. Nesse percurso, as personagens – inicialmente presas a rótulos que, em alguma medida, definem o que se pode (ou não), esperar de cada uma (inclusive por si próprias) – vão se “desmontando” e entrando em contato com a dimensão frágil e vulnerável, própria da condição humana. No fundo, ninguém é tão diferente de quem sofre o bullyng, tampouco incapaz de realiza-lo, ainda que consciente do sofrimento que pode causar e da violência que pode representar. “O alvo”, acerta em cheio na crítica da naturalização de condutas e julgamentos que ditam modelos (de beleza, comportamento, etc), afastados dos quais rondam a ameaça da exclusão e da violência socialmente legitimada. A necessidade, então, do não afastamento desse “espelho generoso” que nos é oferecido socialmente como modelo de perfeição, faz com que nos afastemos uns dos outros e, também, de nós mesmos, fadados à luta de ser (ou deixar de ser) o centro das atenções, para ter garantido um lugar ao sol.
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