Por Ana Lucia Gondim Bastos
Que nossas narrativas pessoais contam sempre com a presença de fantasmas, acho que ninguém duvida. Fantasmas que nos metem medo, que condicionam algumas escolhas ou que, até, de algum modo, determinam nosso jeito de ser e de viver. Fantasmas cultivados na história de cada um de nós, nas trocas constantes e inevitáveis da realidade interna com a realidade que nos cerca. Alguns são, inclusive, herança de família, sendo difícil precisar como foram “ganhando corpo”, na trajetória de gerações. Eles podem nos assombrar mais ou menos, isso depende da intimidade que pudemos estabelecer com nossos fantasmas, mas, acho que ninguém duvida que eles existam. É isso que torna os filmes de suspense, principalmente os que envolvem seres de outro mundo, muito atraentes, ao mesmo tempo que assustadores. Quase sempre envolvem personagens crianças, época da vida que damos mais atenção a eles, por termos as tais portas e janelas que separam as realidades com menos cortinas de proteção.
O filme de Alejandro Amenábar, Os Outros (2001), é um bom exemplar desse tipo de filme. Um suspense que, hora nenhuma temos que nos deparar com crimes sanguinolentos, mas que nos deixa com a respiração suspensa, enquanto nos apresenta a trama na qual os personagens vão precisar enfrentar um “cara-a-cara” com seus fantasmas. Grace (Nicole Kidman) é uma dona de casa que se trancafiou, com seus dois filhos, numa mansão isolada, na ilha de Jersey, esperando a Segunda Guerra acabar e o retorno de seu marido, do front de batalha. Enquanto recebe três novos empregados, conta-lhes da limitação das crianças em relação à exposição à luz. Uma porta só pode ser aberta mediante ao trancamento da anterior e à observação de que todas as cortinas estejam fechadas. “Vivemos controlando a luz – diz Grace aos criados – como num barco precisamos controlar para a água não entrar”. Grace não entende porque os antigos empregados se foram sem deixar rastros, mas rechaça qualquer explicação ou percepção que escape aos seus estudos e entendimentos bíblicos. O que causa muito mal estar entre ela e a filha, uma menininha esperta e extremamente sensível que começa perceber a presença de “outros” ou de “intrusos” na casa, cuja existência escapa às explicações de Grace. Isso tudo, é claro, até que situações limite a coloquem de frente com seus fantasmas. Para quem se interessa pelo tema dos fantasmas, ou dito de outra forma (parafraseando Garcia Marquez), do amor e outros demônios, vale conferir!
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