Por Ana Lucia Gondim Bastos
No mundo da gente, o desejo parece desenhar mapas do tesouro que nos levam a dizer sim à uma vida cheia de aventuras. Nunca é algo muito simples de se interpretar, sejam seus caminhos ou seja onde pretende chegar. Pode, até, ter mesma origem do precisar, mas está longe de se reduzir à busca por objetos específicos para satisfações de tensões internas, como fome ou sede. É uma fome ou sede nada literais, fome ou sede de um não sei o que, mas de algo que achamos que, com certeza, vai acalmar aquela qualquer coisa que doida dentro mexe, como bem descreveu Caetano. Como em qualquer roteiro de aventura, os caminhos contam sempre com inúmeros percalços, e nos levam a viver um misto de excitação e ansiedade, o tal frio na barriga que é bom e ruim, prazeroso e desconfortável… mas, de todo modo, inevitável.
Em Caminhos da Floresta (Into the Woods, 2014), Rob Marshall dirige um musical através do qual, na fantasia dos contos de fadas, leva seus personagens a se misturarem numa floresta onde todos seguem em busca dos caminhos para realização de seus desejos. Alguns caminhos já marcados por maldições e feitiços, consequências de trajetórias de outras gerações e outras buscas. Um padeiro (James Corden) e a esposa ( Emily Blunt) precisam desfazer uma maldição para realizarem o desejo de terem um filho. Tal maldição foi jogada por uma bruxa (Meryl Streep) cuja beleza e juventude tivera sido roubada pelo pai do padeiro, quando levou seus feijões mágicos da horta, por conta dos desejos de grávida da esposa: uma verdadeira teia de desejos que abre espaço para outras tantas. Nessa busca, chapeuzinho vermelho, João do pé de feijão, Cinderela, Rapunzel e seus respectivos príncipes, têm as histórias entrelaçadas na Floresta dos desejos que nem sempre garantem o esperado “felizes para sempre”. Ainda assim, garantem bons (e maus) encontros, renovações de esperanças e novos arranjos e cartografias do desejo.