Por Ana Lucia Gondim Bastos
As configurações familiares podem ser as mais diversas. Diz Frei Betto, na quarta capa do novo livro da escritora infantil Ana Claudia Gondim Bastos, “Família de todo Jeito”: “O que define uma família é o fato de ser um núcleo de pessoas que se amam e partilham seus bens e seus sonhos”. Um núcleo que atende as demandas de proteção, cuidados e compartilhamento de dores e delícias da aventura de viver. Através de um texto leve e repleto de divertidas ilustrações da Rita Carelli, Ana Claudia nos lembra que a casa de cada criança é de um jeito e que, também, tem casa que não tem criança, e que é família do mesmo jeito! Então, não temos modelo único de núcleos produtores de gente feliz e saudável, cada um tem o seu, criado por necessidades ou desejos, mas, que sempre pode ser muito bom, se amor houver e se não comparado às famílias de amigos ou vizinhos – como adverte Frei Betto, ao apresentar o belo livro.
O diretor japonês Hirokazu Koreeda é outro apreciador do tema família de todo jeito, depois de “Ninguém pode saber”(2005 ) e “Pais &Filhos” (2013), nos oferece mais uma pérola de delicadeza acerca das possibilidades de relações e configurações familiares, cada uma com seus limites e abrangências. “Nossa Irmã Caçula” (2016), conta a história, inicialmente, de três irmãs que, ainda adolescentes, passam a viver numa irmandade auto-sustentável, depois que os pais saem de cena. Quando todas estão adultas, há 15 anos dando conta umas das outras, em tudo o que uma família precisa dar, recebem a notícia da morte do pai e resolvem ir ao enterro. Nessa situação, conhecem Suzu, uma irmã de 15 anos e, também, um irmãozinho menor filho da última esposa do pai. Percebem, então, que a adolescente ficara sem família, com a morte do pai, pois a madrasta não parecia ter vínculo afetivo, suficientemente estabelecido, com a enteada, nem uma organização emocional que pudesse dar suporte para Suzu. Por isso, Suzu, recém nascida como irmã, é convidada a fazer parte do núcleo familiar formado, até então, pelas três. Num roteiro bastante linear, sem conflito central, Koreeda nos convida a passear calmamente por lindas paisagens japonesas e a compartilhar momentos de delicada intimidade e cuidado entre as irmãs que, ao fazerem e tomarem licor de ameixa, segundo a receita da avó; ao dividirem as tarefas domésticas, ao ensinarem receitas umas às outras e ao tolerarem, muitas vezes não sem dificuldade, as particularidades de cada uma, vão tecendo tramas e urdiduras de afetos e memórias que fazem delas uma família amorosa e continente. Mais um jeito de família para a lista da Ana Claudia… minha irmã mais nova ❤