Por Ana Lucia Gondim Bastos
E como os caminhos da vida são definidos em virtude do entrelaçamento de diversos pequenos acontecimentos e suas decorrências, não dá para saber como teria sido a vida das 5 meninas envolvidas no caso de bullying que levou, para o hospital, uma colega de escola, se tudo aquilo não tivesse acontecido. A segunda parte do texto escrito e dirigido por Pedro Garrafa, que conta com o mesmo talentoso elenco para continuar a reflexão sobre os preços (e riscos) pagos para se tornar (ou não) o centro das atenções, no universo adolescente, mantém o ritmo e aprofunda as questões levantadas na primeira parte. As meninas que tiveram que sofrer as consequências da indesejável dimensão que uma “brincadeira” de mau gosto tomou, agora precisam lidar com a raiva e com o medo, no momento que passam a ser alvo de projeções afetivas negativas, no contexto escolar. Do lugar das que zombam ou ditam critérios de adequação social, passam para o lugar de quem não deveria, sequer, ter lugar naquele ambiente. Passam, assim, a ser depósito de tudo o que, cada um daquele contexto, gostaria de ter fora de si. Relaciona-se com um mecanismo de defesa dos mais primitivos do psiquismo humano: separar o mal do bem e projetar o mal para fora. E, naquele momento, eram elas o depósito de tal projeção, uma situação difícil de se imaginar , há tempos atrás! É , justamente, aí que reside a riqueza do texto de Pedro Garrafa; na capacidade de nos mostrar que nunca estamos blindados, que, então, podemos, sim, ocupar lugares diversos nos grupos sociais e que, nem sempre, as circunstâncias são, por nós, controladas ou, minimamente, previsíveis (seja porque não temos total controle sobre nós mesmos e sobre nossas reações, seja porque não temos controle sobre a resposta do outro diante de nossas reações ou comportamentos, ou ainda, seja porque não temos nenhum controle sobre o tal entrelaçamento de acontecimentos, no mundo compartilhado, ou no mundo virtual das redes sociais). A falta de empatia é, nesse sentido, uma dificuldade de perceber nossa própria vulnerabilidade diante de tanta imprevisibilidade. E isso, definitivamente, não vale só para o universo adolescente. Vale conferir!
Sobre a primeira parte : https://tecendoatrama.wordpress.com/2015/09/14/teatro-o-alvo/