Filme – Café Society

Por Ana Lucia Gondim Bastos

Há décadas, o público de Woody Allen, aguarda o filme do ano, a ser lançado. E, ele não tem decepcionado! Quase sempre contando com um elenco surpreendente de novos talentos, bela fotografia e trilha sonora irretocável, traz uma história bem contada, no cenário de grandes centros urbanos. Café Society é mais um desses filmes que, como qualquer recorte da vida, conta com aspectos de comédia, romance e drama, tudo junto e, muitas vezes, misturado. A trama se passa na sociedade estadunidense, da década de 30, em cenários que variam entre Nova Iorque e Hollywood. Bobby, o jovem sobrinho de um badalado agente de grandes estrelas (papeis de Jesse Eisenberg e Steve Carrell, respectivamente), deixa seu núcleo familiar, em Nova Iorque, para seguir os idealizados passos do tio materno. Em Hollywood tem a oportunidade de circular nos meios mais restritos e privilegiados do cinema e de se aproximar da atmosfera de fascínio e glamour, que envolve tal meio. Contudo, juntamente, com a charmosa secretaria do tio, Vonnie (Kristen Stewart), que serve de primeira cicerone de Bobby, percebe, com crítica, a superficialidade das relações e o aspecto um tanto patético daqueles que fazem qualquer coisa para não perder o brilho e para continuar fazendo parte daquele seleto grupo de artistas e empresários convidados para as festas das mansões hollywoodianas. Nada surpreendente é o envolvimento do jovem casal, mas, o fato de Vonnie ter um namorado misterioso, traz uma série de surpresas para trama, numa espécie de comédia de erros que, por vezes, tira o fôlego do espectador. Bobby acaba por voltar para o seio da família (judia, é claro) e passa a trabalhar numa casa noturna, do irmão gangster. Apesar de mais próximo da simplicidade do estilo de vida dos pais e da irmã mais velha (casada com um intelectual), continua transitando nos círculos restritos das mega estrelas, dos políticos e grandes empresários, que frequentam a casa noturna que vai ficando cada vez mais badalada. Como sempre, os diálogos são inteligentes e repletos de citações e referências, o que torna o filme ainda mais interessante. Contudo, difícil não sair com uma pontinha de tristeza, ao ver escancarada na tela, nossa tendência por escolhas que nos façam, de alguma forma, sentir privilegiados, mais importantes que os reles mortais, como que de volta à condição narcisista de “Vossas Majestades”. Logo que encontra o sobrinho, o tio endinheirado, em seu imponente escritório, adverte: “Esta cidade é movida por ego”. Mais adiante, o cunhado, resume: “Sócrates dizia que uma vida sem reflexão não vale à pena ser vivida. Mas, quando você reflete, não é nada fácil”! E, assim, sem muito pensar e encantados por nosso reflexo no espelho social dos privilegiados, vamos seguindo fingindo não saber que, muitas vezes, somos coniventes com gangsters e, também, que , com isso, vamos nos afastando das ideias e ideais que nos sustentam no amor e na alegria dos vínculos afetivos mais consistentes. Uma espécie, então, de “Ensaio sobre a cegueira” à moda de Woody Allen, numa comédia dramática que até parece leve e despretensiosa.

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