Filme musical – LA LA LAND, Cantando Estações

Por Ana Lucia Gondim Bastos

Mais uma ode ao cinema musical americano, com direito a números de sapateado, coreografias em cima de carros antigos e casal apaixonado dançando sem tocar os pés no chão. Céu estrelado, pôr do sol e encontros e desencontros amorosos, também não faltam no novo filme de Damien Charzelle, La La Land (2016). A trilha sonora não fica atrás da trilha de seu, também concorrente ao Oscar, Wiplash (2014). Desta vez, o protagonista, Sebastian (Ryan Gosling), é pianista e sonha com seu próprio Jazz Club, enquanto faz “bicos” tocando em restaurantes e bandas, para garantir seu sustento em LA. Emma Stone é Mia, uma aspirante a atriz que, enquanto sua chance não vem, trabalha como barista num café de um grande estúdio, para ficar pertinho do sonho. Os caminhos dos dois se cruzam na LA do trânsito dos carros, das festas, das badalações, das audições e se encontram na LA dos sonhadores, dos corações partidos e na bagunça que provocam.

Charzelle parece brincar com cores e com uma profusão de referências – de filmes das mais diversas épocas, de diretores, atores, personagens, músicas, cenários, coreografias etc – que nos transportam, a todo momento, para uma infinidade outros lugares, tempos ou amores do cinema de outrora. Assim, abre-se um portal no qual o antigo passa a coexistir com o atual, numa espécie de máquina do tempo encantada que nos faz compreender, de forma especial, que o presente carrega o passado, que nossas histórias de sucesso comportam todos os nossos fracassos, que nossas descobertas, nossas modas e invenções começaram a ser construídas muito antes, por aqueles que nos antecederam e continuarão muito depois de nós, sendo transformadas e ressignificadas, pelos que nos sucederão. E que tudo isso se dá via esperança, poesia, alegria, dores e delícias que nossas paixões nos oferecem. Charzelle nos apresenta as dele e nos inspira a buscar as nossas próprias referências, nossos próprios amores do passado que continuam ali, em tudo o que fazemos agora e em tudo o que sonhamos para o amanhã. Me fez lembrar um personagem de Mia Couto que diz: “O passado é mentira. Metade é feita de coisas não passadas. A outra metade é feita de coisas que nunca mais passarão”. E mais, “Amar é um verbo sem passado (…) não existe o ter amado ou ter vivido. Amar e viver são verbos sem pretéritos”.*

*personagens do conto de Mia Couto, “Olhos nus: olhos” In Bressane, R. (org) – Essa História está Diferente: dez contos para canções de Chico Buarque – São Paulo: Cia das Letras, 2010

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