por Ana Lucia Gondim Bastos
Sob a luz do luar todo negro fica azul, um dia alguém disse a Bogg (personagem de Mehershala Ali, que lhe rendeu o Oscar de melhor ator coadjuvante, este ano). Mas, ele não era todo (ou qualquer) negro. Tinha características e história muito particulares (como todo mundo tem), havia vindo de Cuba e, àquela altura, trabalhava como um chefe do tráfico de drogas, em Miami. Ao contar sua história para o pequeno Chiron, adverte: “nunca deixe que digam quem você é. Chega um momento que você deve ser quem é e não quem os outros pretendem que seja”. Chiron, protagonista cuja história acompanhamos em três tempos – infância, adolescência e vida adulta – busca esse contorno identitário, mas seus cenários são sempre muito restritivos e em nada facilitam tal busca ou possíveis entendimentos acerca de quem vai se tornando a medida que o tempo e os acontecimentos passam. O olhar de desamparo e desconfiança que não muda no Chiron pequeno, adolescente ou adulto (papéis brilhantes de Alex Hibbert, Ashton Sanders e Trevante Rhodes, respectivamente) falam desse pouco espaço para qualquer tipo autoconhecimento ou para qualquer espaço de continência de um desenvolvimento, razoavelmente, saudável. A criança que não consegue esconder a fragilidade, sofre a pressão do grupo que não perdoa quem não “sabe se defender e age como frouxo” e, então, o tacham de bicha (faggie). Mas, o que significa ser frouxo, ou bicha, ou azul? Como podem as drogas sustentarem quem consegue sustentar o olhar para uma criança e destruírem, ao mesmo tempo, a mãe dela? Será mesmo que são as drogas que destroem ou algo muito anterior? Para completar a confusão de Chiron, o amor sempre aparece em situações inusitadas, quando menos espera ou, talvez, onde não pudesse esperar. Enfim, Moonlight de Barry Jenkins (vencedor do Oscar de 217), mostra que ninguém é só azul sob a luz do luar e que precisamos de calor e espaço ao sol para escolhermos caminhos. Um belo filme!
Belo e estranhamente premiado pela tradicional Academia! O erro histórico no anúncio do prêmio não foi um ato falho?
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Quem sabe, né?
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