Por Ana Lucia Gondim Bastos
“Escrever é se transformar, é se desprender de si mesmo, dissorciar-se de si mesmo. Se eu já soubesse aonde estava indo, não escreveria”, por isso mesmo Foucault (1926-1984) nos deixou como legado uma obra inacabada, repleta de espaços para inquietações, revisões, discussões e, principalmente, problematizações. Daí o título do documentário, de 53 minutos, no qual François Callat (2014) escuta filósofos contemporâneos, acerca dos 20 anos de escrita foucaultiana. Escrita de idas e vindas, atravessando as fronteiras dos mais diversos campos territoriais do saber. Construindo pontes entre tempos e estruturas de poder, quebrando muros, conduzindo ao terreno da legitimidade, assuntos relegados. Numa trajetória centralizada na academia, como filósofo, ousa escolher como objeto de estudo a história dos loucos, dos presos e da sexualidade. Essa insubmissão à domesticação institucional, a despeito de estar sempre fazendo parte dos quadros acadêmicos mais respeitados mundialmente, é apresentada por falas de Geoffroy de Lagasnerie, Arlette Farge, Didier Eriban, Georges Didi Guberman e Leo Bersani. Delicadamente, ao serem costuradas a falas do próprio Foucault e a dados históricos, compõem o documentário que, mais que nas ideias ou na vida de Foucault, se centra no espírito combativo e vigilante de tais ideias e vida. Uma boa pedida para nos ajudar a construir entendimentos e a acreditar em caminhos de resistência à barbarie que parece se instaurar, em nossos dias.
http://www.reservacultural.com.br/index.php/filmes/foucault-contra-si-mesmo/