Por Ana Lucia Gondim Bastos
“(…)Quero lhe contar como eu vivi
E tudo o que aconteceu comigo
Viver é melhor que sonhar
Eu sei que o amor
É uma coisa boa
Mas também sei
Que qualquer canto
É menor do que a vida
De qualquer pessoa(…)”Belchior
A história de Rosa (Maria Ribeiro) é construída a partir das desconstruções da geração do jovens da década de 70. Seus pais, faziam parte dessa geração que, utilizando palavras de Kundera, preferiram à exploração apaixonada do desconhecido (a aventura) que a apoteose do conhecido (o retorno), quebraram tabus, lutaram pela transformação de comportamentos e realidades sociais estagnados. Uma geração de grandes feitos, cabelos ao vento e amores livres. Geração cujos filhos (muitos deles, talvez Rosa, inclusive), a despeito da admiração e reconhecimento da legitimidade da luta e escolhas de seus pais, cresceram buscando uma reconciliação com o finito de contornos localizáveis, em contraposição ao infinito da aventura, das múltiplas possibilidades de transformação. Claro, tudo isso contando com a plasticidade de contornos para as vidas, adquiridas, justo, pela desconstrução da rigidez de outrora.
“Como Nossos Pais” (2017) é mais um belo filme de Lais Bodansky. Nele apresenta, com muita delicadeza, através de um recorte na história de Rosa, que, ainda que sigamos sendo e vivendo como nossos pais, o novo sempre vem. A personagem central se aproxima dos 40 anos, é casada, mãe de duas filhas que estudam em escola de elite intelectual paulistana e tem na escrita, seu trabalho e primordial fonte de expressão. Vive um momento de grande questionamento de vida, gerado por múltiplos conflitos nas relações com aqueles que, a ela, ofereceram “a ideia de uma nova consciência e juventude”( Clarice Abujamra e Jorge Mautner), com o marido (Paulo Vilhena) – que também se vê às voltas com as cobranças em relação às novas configurações de papeis sociais masculinos – e com seus empregadores e possibilidades de realização profissional. Uma vida toda colocada em xeque, enquanto as filhas crescem e pedem referências e cuidados constantes. Nesse contexto, segredos vêm à tona, novas interpretações se abrem, amores se libertam e separações se dão. Tudo isso ampliando a percepção de Rosa acerca de seus desejos e projetos, fazendo-a saber de tudo na ferida viva do seu coração e ver vindo o vento de uma nova estação. Afinal, foi para isso que se fez o seu braço, o seu lábio e a sua voz.