Por Ana Lucia Gondim Bastos
M. Night Shyamalan nasceu na Índia e foi criado nos Estados Unidos. Sua cidadania estadunidense foi obtida na época de ingresso na faculdade, quando escolheu cursar cinema na Escola de Artes da Universidade de Nova York. Foi quando, também, introduziu , Night, no nome de registro, Manoj Nelliyattu Shyamalan. Assim, um nome americano passou a fazer parte de sua assinatura. Seu primeiro filme (Praying with Anger, 1992) tinha como protagonista um personagem hindu. Certa vez, em entrevista, ouvi que fora um conselho do pai, que passasse a colocar protagonistas americanos, no intuito de atrair mais público para as histórias que contaria em seus filmes. Assim o fez e, pelo visto, deu muito certo! Em 1998, lançou o premiado “Sexto Sentido”. Nele, Bruce Willis é o psicólogo que acompanha um paciente mirim (Haley Joel Osment) no encontro com seus fantasmas. Bruce Willis voltou a protagonizar um filme de Shyamalan, em 2000, quando, em Corpo Fechado (Unbreakeble), fez o papel de David Dunn, um homem branco que trabalha como segurança particular e que, após ser o único sobrevivente de um grave acidente de trem, começa a se questionar acerca de sua resistência física. Numa surpreendente trama que vai ganhando forma e colorido de quadrinho de super heróis, Elijah Price (Samuel L. Jackson), um homem negro, que nasceu com uma rara doença que faz com que os ossos tenham extrema fragilidade, procura David Dunn, com explicações acerca de suas realidades dispares. Assim, nascem o Homem de Vidro e O inquebrável, de Shayamalan, existências que, na radicalidade de suas polarizações, parecem ligadas para sempre.
Anos depois, o diretor/roteirista, apresenta um novo vilão aos pedaços, dessa vez não são os ossos, mas é o psiquismo, o local do estilhaçamento. Em Fragmentado (2016), James MacAvoy (para sempre um Xmen) é Kevin, é, também, a religiosa Patricia, a criança Hedwig, o sensível Barry, o obsessivo Dennis e mais uma turma que somam 23 personalidades distintas que habitam um mesmo corpo, todas ameaçadas pela chegada de uma vigésima quarta.
Em um roteiro repleto de referências (do próprio Xmen, de MacAvoy; do Dr. Hannibal, de Anthony Hopkins ou do Iluminado, do Jack Nicholson), MacAvoy dá show de interpretação! Por conta de uma história de maus tratos, Kevin Crump foi se fragmentando para sobreviver, cada personalidade dava conta de uma fragilidade e apresentava outras tantas. A psicóloga, Karen Fletcher (Betty Buckley) , tratava de cada uma na medida que iam se apresentando nas sessões ou e-mails. Até que todas se veem às voltas com o sequestro, realizado por Dennis, de três adolescentes, supostamente, bem nascidas e protegidas. Daquelas que, até então, não precisaram fazer muito esforço, ou estabelecer muitas estratégias de sobrevivência. Novamente, um roteiro que, pelo menos de início, parece mais um thriller, baseado em contextos verossímeis, e vai ganhando forma, super poderes e magia dos quadrinhos. Tudo parece se amarrar nas últimas cenas e uma continuação, Mr Glass, já está prometida para 2019, contando com o encontro dos personagens dos dois filmes. Talvez, tenha sido assim que Shyamalan escolheu visitar seus fantasmas, assim como, os de todos nós. Fantasmas de nossas vidas particulares e, também, dos aspectos socialmente compartilhados: aqueles que fazem de uns tão vulneráveis e de outros tão indestrutíveis. E que, por vezes, fazem com que os papéis se invertam.