Por Ana Lucia Gondim Bastos
O outro lado da esperança é a gente saber que morrer é mais fácil, mas não é o que se quer. Querer viver e encontrar sentido para luta, nem sempre parece tão óbvio, apesar de não ser colocado em questão, pelos personagens Aki Olavi Kaurismäki, em seu “O Outro lado da Esperança” ( a ideia com a qual eu começo o texto é de um de seus personagens, em resposta a um interlocutor preocupado com seu estado emocional).
Um refugiado Sírio na Finlândia, que vive a esperança do reencontro com a irmã de quem se perdeu no meio do caminho e um senhor de meia idade que acaba de desistir do casamento e da profissão, nos levam a conhecer outros tantos personagens e histórias de busca por sobrevivência em momentos históricos sombrios. Mas, se há busca pela sobrevivência, há esperança, há humor, há criatividade e muitos bons encontros (outros nem tanto, é verdade! Mas, como é dito em algumas falas dos refugiados, ao contarem suas trajetórias: tem muita gente boa que presta ajuda e proteção). O bonito desse processo é que cada personagem, como acontece na vida, vai estabelecendo suas prioridades. Vai percebendo o que precisa preservar na vida para que ela continue viva, porque a vida nunca é vida a qualquer custo, ainda que , às vezes, assim pareça ser. E isso não é igual para todo mundo: o que faz (ou onde faz) Khaled (refugiado sírio) querer continuar vivendo, é diferente do que move Wikhström (o finlandês recém divorciado), ou Mazdak (refugiado iraquiano que se torna amigo de Khaled) ou a irmã de Khalad ou, ainda, os funcionários do restaurante que Wikhström compra : Mirja, Calamnius e Nyrhinen.
Daqueles filmes que escancaram a improdutividade de se dizer “se eu fosse você” , ao mesmo tempo que escancaram a imprescindibilidade da empatia e solidariedade para que a morte, a despeito de uma saída segura, não seja a grande busca.
Tecendo a Trama 