Filme Musical – Mamma Mia! e Mamma Mia! Here we go again

Por Ana Lucia Gondim Bastos

Lembro de, quando adolescente, idealizar o tempo de juventude dos meus pais. Tempo de grandes festivais de música, luta por liberdade de expressão, cabelos ao vento e pé na estrada like a Rolling Stone! Outro dia vi o mesmo brilho de encantamento, nos olhos de minha filha, quando eu contava sobre minha juventude universitária, nossas lutas e nossas festas.  Me dei conta que minha juventude teve tudo aquilo que, outrora, eu percebia nas memórias de meus pais: as lutas e as festas, as músicas, as ideias e os cabelos ao vento. Foi aí que também me dei conta que o encantamento pelo o que viveu a geração passada muito se dá por ser narrativa já apaziguada, por existir enquanto um registro de memória. Quando contamos histórias do passado,  já sabemos das alegria dos muitos ganhos e das dores, das grandes decepções e perdas! Claro, é até esperado que nunca tudo tenha saído do jeito, ou para o mesmo lado, que almejávamos. Com certeza, muitos são os tiros que saem pela culatra! Mas, é encantador como toda essa memória vai atribuindo sentido às novidades do presente, e, o entusiasmo com que se viveu tudo aquilo, definitivamente, não é o mesmo com o qual se conta. O que a juventude está vivendo no presente comporta medos e inseguranças que, independente da consciência dos tiros pela culatra (ou, por causa dela, mesmo!), não temos quando contamos os ocorridos, como histórias do passado, para gerações futuras. A gente sabe o final… pelo menos o final até ali. E isso, sem duvida, tira uma baita pressão e deixa tudo mais emocionante e colorido. Essa memória é uma bagagem que uma geração pode passar para outra, não para que a nova geração fique paralisada no encantamento, mas, ao contrário disso, para que tenha coragem de se lançar nas lutas e festas, próprias do tempo presente, projetando um futuro e construindo trajetórias particulares.

Os filmes musicais Mamma Mia! – tanto o primeiro de Lloyd (2008), quanto o segundo de Parker (2018) –  são deliciosos (para quem gosta de musicais, é claro!), justamente, por trazerem essa parte, encantadora e divertida, dos encontros geracionais, em roteiros leves e despretensiosos, contando com elenco de peso, cantando. No primeiro, Donna (Meryl Streep) e sua filha Sophie (Amanda Seyfried), recebem suas melhores amigas, na ilha grega Kaloikari, local , isolado e paradisíaco, que Donna, na juventude, escolheu para criar, sozinha, sua filha e onde esta, agora, vai casar. Ao ler diários da mãe, Sophie descobre que Donna tem duvidas acerca de quem poderia ter engravidado e resolve mandar convites para os três possíveis pais: Sam Carmichael (Pierce Brosnan), Harry Bright (Colin Firth) e Bill Anderson (Stellan Skõrsgard). Todos aceitam o convite e, de diferentes histórias e partes do mundo, chegam para rever aquela que fora um rápido, porém marcante, amor de juventude. Nesse mesmo momento de resgates de várias ordens, Donna se vê, também, às voltas com as ambivalências do momento de perceber Sophie se destacando da família de origem, escolhendo nova parceria, através do casamento com Sky (Dominic Cooper), para construir seu futuro.

No segundo filme, após a morte de Donna, a história de sua juventude (agora papel de Lily James) é relembrada num encontro, promovido pelo projeto, realizado por Sophie, de reabertura do hotel da mãe. Para inauguração são convidados os três pais, a avó (Cher) e as amigas da mãe (Christine Baranski e Julie Mary Walters).  Sophie, adulta, “passeia” pelas histórias da mãe, contando com o suporte dos pais e tias, para se projetar no futuro e construir sua própria trajetória. Se o filme fosse brasileiro, imagino que terminaria com canção de Belchior:

No presente a mente, o corpo é diferente
E o passado é uma roupa que não nos serve mais. 

Você não sente nem vê
Mas eu não posso deixar de dizer, meu amigo
Que uma nova mudança em breve vai acontecer
E o que há algum tempo era jovem novo
Hoje é antigo, e precisamos todos rejuvenescer”.

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