Por Ana Lucia Gondim Bastos
Estamos há três meses vivendo em isolamento social como única alternativa à situação pandêmica que assola o mundo. A COVID 19, se alastra rapidamente e compreende desde quadros clínicos assintomáticos até aqueles desencadeados por uma Síndrome Respiratória Aguda Grave, que pode levar o paciente à morte. O risco é de colapso dos sistemas de saúde em função da alta demanda por hospitalização. Em 17 de março foi anunciada a primeira morte provocada pelo vírus CoV2 e em abril já tínhamos passado as estatísticas de morte da China (epicentro da epidemia). As orientações da Organização Mundial de Saúde é a de manter o isolamento social, uso de máscaras, aumento dos cuidados com a higiene pessoal e com todo e qualquer objeto que possa ter sido manuseado por outras pessoas, tentando conter a curva de contágio. E foi assim que nossas rotinas foram se transformando, com os encontros sociais passando todos para o modo online. É preciso manter distancia dos corpos e o toque, o abraço e mesmo o formal aperto de mão foram banidos do nosso dia dia, em conversas via tela de computador ou celular. O tempo que usávamos para nos deslocarmos de um lugar para outro, para cumprirmos nossos compromissos rotineiros, passou a ser dedicado à limpeza de compras que chegam pelos Correios e precisam ser desinfetadas, aos cuidados com os afazeres domésticos que outrora eram terceirizados e à preocupação de não deixar o corpo parar de se mexer, já que, agora, confinados em nossas casas, poucos passos são necessários para cumprir toda a rotina diária. Enquanto isso, à espera por uma vacina ou testes que possam ajudar a controlar esse momento mais estranho do que qualquer ficção pudesse ter anunciado (apesar de que, não podemos negar, vinham anunciando, sim), nosso país é governado por um presidente que menospreza a importância da situação, chama a epidemia de gripezinha, se desresponsabiliza quanto às milhares de mortes (“E daí, o que que eu posso fazer?”, é uma de suas falas), demite ministros da saúde que encaram a gravidade dos fatos e, por fim, deixa claro que tem vidas que importam menos, mesmo. É como se estivéssemos em meio a uma pane do avião e… “aperte os cintos que o piloto sumiu”, ou muito pior, “apertem os cintos que o piloto continua aí e mira na montanha à frente”! Como dar conta desses excessos que transbordam em forma de angústia, que nos faz lembrar do corpo por causa do nó na garganta, da dor de cabeça, do peso nos ombros e do aperto no peito que causa falta de ar?
Muitas plataformas de streeming se abriram , filmes foram disponibilizados gratuitamente e muito conteúdo de música, filmes, dança e teatro foram aparecendo na sem número de lives que passaram a fazer parte da nossas vidas… E o que seria de nós sem a arte, sem os artistas! Aliás, mais do que nunca é fonte de indignação a desvalorização com a qual o atual governo trata a cultura e a ciência. São os artistas e os cientistas os que nos favorecem os poucos respiros que não nos deixa sucumbir! Artistas, cientistas e amizades solidárias. Essas são nossas lufadas de ar fresco, nosso calor de abraço, nossa inspiração para não pararmos de criar novas formas e sentidos para viver. Por isso, abro uma nova fase no blog. A partir de agora, vou convidar as pessoas que trocam comigo, ideias, dicas, informações e impressões sobre as obras que estão nos ajudando a seguir protagonizando uma história apesar do isolamento, do desgoverno e do deconsolo, para escreverem comigo. Assim, teremos também os registros do produzido em conjunto*, do poetizado, do carinho trocado e dos cuidados mútuos com os quais contamos nesses tempos sombrios e pelos quais seguimos lutando. Pois, como nos ensina Mario Quintana, eles passarão e nós passarinho.
*deixo aqui registrado que a primeira parceria desse tipo, a que me inspirou a buscar formas, como essa, de resistir às dificuldades do momento, contando com a produção conjunta, foi a que estabeleci com meu amigo Joaquim Pereira da Silva Jr e resultou num capítulo de livro (agora no prelo) que deve ser publicado ainda este ano. Valeu, Joaquim! Está feito o convite para um texto aqui para o blog, também!